segunda-feira, 23 de março de 2009

Professor Felipe Aquino escreve ao Ministério de Formação da Diocese de Oliveira

Irmãos, tenho tido a imensa alegria de conversar via e-mail com o conhecido e querido Professor Felipe Aquino, pregador, escritor e formador nos programas e eventos da Canção Nova. Em meio às partilhas, pedi que escrevesse um artigo sobre a importância da Formação Doutrinária na Igreja no Século XXI. Com uma atenção sem medida, o professor produziu este belíssimo texto exclusivo para a nossa Diocese, o que nos impulsiona a acreditarmos e investirmos cada vez mais neste trabalho de esclarecimento da fé e formação de novos líderes. Leiam atentamente e comentem: vamos intensificar cada vez mais nossas partilhas, discussões e aprendizados.


Formação, base para o catolicismo

O autor da Carta aos Hebreus escreveu: “Ora, quem se alimenta de leite não é capaz de compreender uma doutrina profunda, porque é ainda criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para aqueles que a experiência já exercitou na distinção do bem e do mal”. (Hb 5, 13-14)
Sem esse “alimento sólido”, que a Igreja chama de “fidei depositum” (o depósito da fé), ninguém poderá ser verdadeiramente católico e autêntico seguidor de Jesus Cristo.
Não há dúvida de que a maior necessidade do povo católico hoje é a formação na doutrina. Por não a conhecer bem, esse povo muitas vezes vive sua espiritualidade, mas acaba procedendo como não católico, aceitando e vivendo muitas vezes de maneira diferente do que a Igreja ensina, especialmente na Moral. E o pior de tudo é que se deixa enganar pelas seitas, igrejinhas e superstições.
Em sua recente viagem `a África, que começou em 17 de maio de 2009, o Papa Bento XVI deixou claro que a formação é o antídoto para as seitas e para o relativismo religioso e moral. Em Yaoundé, na África, o Papa disse que “a expansão das seitas e a difusão do relativismo – ideologia segundo a qual não há verdades absolutas –, tem um mesmo antídoto, segundo Bento XVI: a formação”. Disse o Papa que:
«O desenvolvimento das seitas e movimentos esotéricos, assim como a crescente influência de uma religiosidade supersticiosa e do relativismo, são um convite importante a dar um renovado impulso à formação de jovens e adultos, especialmente no âmbito universitário e intelectual». E o Santo Padre pediu «encarecidamente» aos bispos que perseverem em seus esforços por oferecer aos leigos «uma sólida formação cristã, que lhes permita desenvolver plenamente seu papel de animação cristã da ordem temporal (política, cultural, econômica, social), que é compromisso característico da vocação secular do laicado».
Desde o começo da Igreja os Apóstolos se esmeraram na formação do povo. São Paulo escrevendo a S. Tito e a S. Timóteo, os primeiros bispos que sagrou e colocou em Creta e Éfeso, respectivamente, recomendou todo cuidado com a “sã doutrina”. Veja algumas exortações do Apóstolo; a Tito ele recomenda: seja “firmemente apegado à doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem” (Tt 1, 9)”. “O teu ensinamento, porém, seja conforme à sã doutrina” (Tt 2,1).
A Timóteo ele recomenda: “Torno a lembrar-te a recomendação que te dei, quando parti para a Macedônia: devias permanecer em Éfeso para impedir que certas pessoas andassem a ensinar doutrinas extravagantes, e a preocupar-se com fábulas e genealogias”. (Tm 1, 3-4) . “Recomenda esta doutrina aos irmãos, e serás bom ministro de Jesus Cristo, alimentado com as palavras da fé e da sã doutrina que até agora seguiste com exatidão”. (1Tm 4,6)
São Paulo ensina que Deus “quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2, 4). Sem a verdade não há salvação. E esta verdade foi confiada à Igreja: “Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa de Deus, que é a Igreja de Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15).
Jesus garantiu ao Apóstolos na Última Ceia que o Espírito Santo “ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16, 13) e “relembrar-vos-á tudo o que lhe ensinei” (Jo 14, 25). Portanto, se o povo não conhecer esta “verdade que salva”, ensinada pela Igreja, não poderá vive-la. Mas importa que essa verdade não seja falsificada, que seja ensinada como recomenda o Magistério da Igreja,que recebeu de Cristo a infalibilidade para ensinar as verdades da fé (cf. Catecismo §981)
Já no primeiro século do cristianismo os Apóstolos tiveram que combater as heresias, de modo especial o gnosticismo dualista; e isso foi feito com muita formação. S. Paulo lembra a Timóteo que: “O Espírito diz expressamente que, nos tempos vindouros, alguns hão de apostatar da fé, dando ouvidos a espíritos embusteiros e a doutrinas diabólicas, de hipócritas e impostores...” (1Tm 4,1-2).
A Igreja, em todos os tempos se preocupou com a formação do povo. Os grandes Bispos e Padres da Igreja como S. Agostinho, S. Ambrósio, S. Atanásio, S. Irineu, e tantos outros gigantes dos primeiros séculos, eram os catequistas do povo de Deus. Suas cartas, sermões e homilias, deixam claro o quanto trabalharam na formação dos fiéis.
Hoje, o melhor roteiro que Deus nos oferece para uma boa formação é o Catecismo da Igreja Católica, aprovado em 1992 pelo Papa João Paulo II. Em sua apresentação, na Constituição Apostólica “Fidei Depositum”, ele disse:
“ O Catecismo da Igreja Católica (...), é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição apostólica e pelo Magistério da Igreja. Vejo-o como um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé”.
E pede o Papa: “Peço, portanto, aos Pastores da Igreja e aos fiéis que acolham este Catecismo em espírito de comunhão, e que o usem assiduamente ao cumprirem a sua missão de anunciar a fé e de apelar para a vida evangélica. Este Catecismo lhes é dado a fim de que sirva como texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica... O "Catecismo da Igreja Católica", por fim, é oferecido a todo o homem que nos pergunte a razão da nossa esperança (cf. lPd 3,15) e queira conhecer aquilo em que a Igreja Católica crê”.
Essas palavras do Papa João Paulo II mostram a importância do Catecismo para a formação do povo católico. Sem isso, esse povo continuará sendo vítima das seitas, enganado por falsos pastores e por falsas doutrinas.
Mais do que nunca a Igreja confia hoje nos leigos, abre-lhes cada vez mais a porta para evangelizar; então, precisamos fazer isso com seriedade e responsabilidade. Ninguém pode ensinar aquilo que quer, o que “acha certo”; não, somos obrigados a ensinar o que ensina a Igreja, pois só ela recebeu de Deus o carisma da infalibilidade. Ninguém é catequista e missionário por própria conta, mas é um enviado da Igreja. Sem a fidelidade a ela, tudo pode ser perdido.
Portanto, é preciso estar preparado, estudar, conhecer a Igreja, a doutrina, a sua História, o Catecismo, os documentos importantes, a liturgia, etc. Quanto mais se conhece a Igreja e todo o tesouro que ela traz em seu coração, tanto mais a amamos.

Prof. Felipe Aquino

3 comentários:

Anônimo disse...

É DISSO QUE EU TO FALANDO!!!!!!!!!

Ministério de Formação disse...

Que bom que você comentou. Gostaria de saber quem você é para podermos partilhar mais. Obrigado.

Ailton Dias disse...

Neste mundo cada vez mais "plural" e de tantas suposições é necessário ancorarmos no porto seguro do Sagrado Magistério para trilharmos o caminho do anúncio e da formação.

Muito bom o artigo...

Ailton Dias